Consumir produtos orgânicos não é uma atitude que faz bem só para a saúde, mas beneficia também outras pessoas e o meio ambiente. Muita gente não sabe, mas o cultivo de alimentos orgânicos vai além da não utilização de agrotóxicos. Esta é apenas a ponta mais visível de um processo que envolve o respeito a vários aspectos ambientais, sociais, culturais e econômicos.
Que a agricultura orgânica não utiliza agrotóxicos, hormônios, drogas veterinárias, adubos químicos, antibióticos ou transgênicos em suas fases de produção, todo mundo já sabe. O que o consumidor normalmente desconhece é que esse tipo de cultivo deve garantir um sistema agropecuário sustentável e atender uma série de normas para receber um certificado e ser considerado orgânico de verdade.
A certificação, que é uma das formas de garantir a qualidade orgânica de um produto, faz parte do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica – SisOrg e é realizada por uma certificadora, ou seja, um Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC). Em Minas Gerais, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) é um dos credenciados junto ao Ministério da Agricultura para conferir a certificação por meio de auditoria.
Os produtos orgânicos de origem vegetal certificados ganham um selo federal reconhecido em todo o país e obrigatório para os produtos comercializados em supermercados e sacolões. Quem realiza a venda direta ao consumidor não precisa apresentar o selo, mas o consumidor pode exigir o certificado para ter certeza sobre a procedência.
Para alcançar a certificação, o agricultor deve utilizar práticas que conservam e preservam o solo, a água e a biodiversidade local. Deve observar as leis trabalhistas, adotar apenas as técnicas de produção permitidas por lei e valorizar as comunidades locais.
Entenda os requisitos.
O primeiro ponto é a regularização ambiental da propriedade, que passa por licenças ambientais, outorga de água (autorização do uso da água) e análise da qualidade da água para a irrigação. Além disso, a propriedade deve manter a chamada Área de Preservação Permanente e cuidar dos cursos de água que passam pelo local.
Seguir à risca as leis trabalhistas é outro requisito para o produtor orgânico. Todos os empregados devem ter carteira assinada, usufruir de instalações sanitárias adequadas e ambiente destinado à alimentação. Ações de Responsabilidade Social também são levadas em conta e, por isso, para ser considerado orgânico o produtor deve valorizar a comunidade na qual está presente.
Outra garantia para quem consome o produto é a rastreabilidade. Isso significa que o produtor deve saber todo o caminho que o produto percorreu desde o plantio até sua comercialização, para que consiga identificar possíveis falhas em qualquer uma destas etapas.
Boas práticas.
Algumas notícias veiculadas recentemente na mídia colocaram em xeque a confiabilidade dos produtos orgânicos consumidos no Brasil. Verificar o selo ao comprar no supermercado e exigir o certificado do produtor que realiza a venda direta são alguns cuidados que o cliente pode ter. Mas, se tiver a oportunidade de conhecer de quem está comprando, aí sim é o ideal.
O engenheiro agrônomo, Lucas Alves de Souza, de 33 anos, está à frente da Vista Alegre, primeiro projeto de horticultura de Minas Gerais a conseguir a certificação do IMA. A fazenda, que fica no município de Capim Branco, a 55 quilômetros de Belo Horizonte, tem se tornado referência para estudantes e outros produtores pelas práticas inovadoras que vem adotando.
O sistema de irrigação é um deles. Mais econômico e eficiente, o sistema por gotejamento utilizado na Vista Alegre faz com que a planta receba água em gotas, direto no pé. Isso diminui a perda por evaporação e representa uma economia de mais de 1000% se comparado aos sistemas convencionais.
Na propriedade, o aproveitamento de resíduos é total. A produção que não é comercializada é aproveitada como alimentação dos animais da fazenda e o esterco dos animais utilizado como adubo. “Assim vamos aproveitando tudo o que temos aqui dentro e nos tornamos verdadeiramente sustentáveis”, diz Lucas.
A produção orgânica hoje emprega 20 pessoas na Vista Alegre. “É uma oportunidade de fixar o homem no campo, gerando renda local e também aproveitando o conhecimento tradicional que essas pessoas já trazem com elas”, explica.
A Fazenda Vista Alegre tem como grande diferencial sua interação com o cliente: a propriedade é aberta para quem quiser conhecer a produção. Eles, inclusive, estimulam e organizam visitas guiadas, que terminam em um “gran finale” ao redor da mesa, degustando as delícias produzidas na fazenda. “Realizamos também a venda direta, em feiras e pela internet, que elimina intermediários e estreita o caminho do produtor ao consumidor final, possibilitando que o produto orgânico chegue com um preço mais acessível”, explica Lucas.
Dicas de sites:
No site do IMA (clique aqui) você confere alguns dos produtores certificados em Minas Gerais e todos as etapas exigidas para a certificação.
Para conhecer a Vista Alegre, visite o site www.vivavistaalegre.com.br
Números da Produção Orgânica:
Mundo: Aproximadamente 1,4 milhão de produtores orgânicos no mundo. Área plantada de 67 milhões de hectares. Movimenta aproximadamente R$ 50 bilhões
Brasil: Maior mercado consumidor da América do Sul. Expectativa de movimentar US$ 2 bilhões em 2013
Minas Gerais: 366 agricultores orgânicos certificados pelo Ministério da Agricultura
Fonte: Assessoria de Comunicação – Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento